segunda-feira, 27 de outubro de 2008

No tempo de João Brandão - Cap. 1



Midões, na 1ª metade do séc. XIX, foi o centro nevrálgico das movimentações políticas e lutas partidárias. Era sede de concelho e gozava de um estatuto importante na região.

Entre 1828 e 1834 imperou em Portugal D. Miguel, o rei Absoluto. Nessa época os partidários do liberalismo foram perseguidos e presos. Dessa facção faziam parte a família dos Brandões, que na época estava dividida em dois ramos - os Brandões de Midões e os Brandões do Casal ( da Senhora). Desta última, Manuel Rodrigues Brandão era o seu representante e era também pai do famoso João Brandão.

As perseguições movidas pelos Absolutistas levaram na época, Manuel R. Brandão e três sobrinhos dos Brandões de Midões a andarem fugidos, a monte durante meses com medo de serem presos ou mortos.

Quando estalou a guerra civil em 1832/34, saíram vitoriosos os Liberalistas. Seguiu-se um período de desordem e vinganças, acrescido ainda do nascimento de bandos de guerrilheiros, que não se quiseram desmobilizar da guerra. Eram sobretudo Miguelistas vencidos, mas também ex-combatentes, apenas com o objectivo de roubar e matar, fazendo disso o seu modo de vida.

Um exemplo paradigmático era a quadrilha do "Caca" , vulgo os "Garranos", responsáveis por inúmeros assassinatos, de entre os quais, a morte do padre Figueiredo de Fajão, tendo-o obrigado a andar pelas ruas descalço e cortando-lhe por fim as orelhas, ou o caso do padre de Castanheira, que o foram buscar ao altar onde estava a dizer a missa e o mataram. Haviam ainda outros grupos de guerrilhas: - os poetas de Sameice; os Crespos de Lagos; os Calistos da Lagiosa; Agostinho Vaz Pato de Abreu e castro de Santa Ovaia; Padre Joaquim de Carregoselo, que levava tudo diante de si a ferro e fogo; Estanislau Xavier de Pina, etc..

Nessa época, referente a Travanca de Lagos surge um nome - Manuel da Silva. Era um sicário do bando Brandoático, de Manuel R. Brandão - Brandões do Casal (nessa época João Brandão era pouco mais que uma criança).

De entre outras "façanhas" de que Manuel da Silva foi incriminado, contam-se a morte horrorosa do vigário do Ervedal (que mais tarde se vieram a descobrir os verdadeiros culpados) e esteve na Matança da Páscoa, que consistiu no cerco ao bando do Caca no seu quartel general , que se tornou Lagares. Foi assassinado por Manuelzinho Brandão, primo de João Brandão, tendo sido cúmplice o seu irmão Francisco Elísio.

Com efeito, após a chamada revolução de Setembro de 1836, houve divisão entre os liberais: - os Cartistas, defensores da carta constitucional- Brandões do Casal, mais conservadores; os Setembristas, defensores da Constituição de 1822, mais radicais -Brandões de Midões.
Os Brandões do Casal e os de Midões tornaram-se assim inimigos mortais, perpetuando o ódio e a matança ainda por muitos anos.