terça-feira, 27 de janeiro de 2009

As Invasões Francesas de passagem por Travanca de Lagos - Novos dados


Esta notícia , editada no Brasil pela Gazeta do Rio de Janeiro, de 29 de Maio de 1812, relata o ponto de situação do nosso exército que se encontrava estacionado em Celorico da Beira, onde estava o Quartel General de Wellington . Os Franceses batiam em retirada, perseguidos pelas nossas tropas, mas deixavam uma onda de terror e devastação à sua passagem, com queimadas e pilhagens. Contudo, algumas Terras conseguiam-se organizar e tentavam defender-se. Em Avô assim aconteceu, os Franceses não entraram, foi um exemplo de resistência e combate, capitaneados por António de Mello Pinto Cardoso e Francisco Madeira da Costa, tendo repelido cinco vezes os seus ataques, sendo os invasores em número de 400 homens. Vem escrito neste recorte que em Travanca de Lagos e Lagares, também não entraram, por terem visto alguns paisanos armados. Se assim foi, houve resistência do Povo de Travanca , que se preparava para defender a sua terra, vigiando a sua aldeia de forma a não ser surpreendido. É pena que estes paisanos não tenham um nome para que lhes pudessemos prestar hoje a devida homenagem e mostrar o nosso reconhecimento.


segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

A vida de João Brandão (1825-1880) – CAP. III



O Padre Portugal era procurador do Visconde de Almeidinha. Tinha vindo a negócios com o fim de vender as propriedades de que o Visconde era possuidor na zona de Várzea de Candosa. Ficou hospedado numa casa do Visconde onde residia também uma “amiga “ dele – Dona Rosa Cândida de Nazareth e Oliveira. Segundo relatos da época, terá sido pelo mau comportamento da dita D. Rosa que o Visconde se apressou em vender todas as suas propriedades na região.

João Brandão terá sido um dos principais compradores, tendo sido mais tarde acusado do roubo e assassinato do dito procurador. Desta condenação, que depois se veio a provar injusta, perpectuada pelos seus inimigos políticos, dado que os verdadeiros assassinos foram a própria Dona Rosa e um cúmplice seu amante, que fazia parte do grupo do João Brandão, “O Faca do Mato” – José de Matos, resultou a extradição do João Brandão para a África Oriental com a pena de trabalhos públicos para toda a vida.

Todavia gozou durante certo tempo dum estatuto especial, tendo unicamente de se apresentar regularmente às autoridades não podendo apenas ter bens em seu nome. Conseguiu também rodear essa questão, pois viveu o resto da sua vida em Benguela, dono de uma grande propriedade açucareira, onde produzia aguardente, até ser assassinado pelos seus inimigos da metrópole. Efectivamente, a 17 de Maio de 1880 chega à província um novo governador, o conselheiro João das Neves Ferreira Júnior, que traria ordens para o eliminar de vez, o que de facto aconteceu nesse ano, a 17 de Novembro.

Após a sua morte ficaram, as canções, as amantes, os esconderijos, as histórias exageradas, a lenda…

Curiosidade

A prisão de João Brandão no dia 7 de Maio de 1866, na casa do pároco de Lourosa , foi levada a cabo pelo Administrador de Oliveira do Hospital, Luís Pereira de Abranches, junto com cabos de polícia e regedores das freguesias da Bobadela e de Travanca de Lagos.

Amantes

Entre outras terras, também Travanca reclama uma amante de João Brandão. Segundo a lenda era por trás da casita das campas, no largo da igreja, que João se escondia muitas noites.

Mitos (contestado por Historiadores)

I Aos doze anos comete o seu primeiro homicídio, na pessoa de um pastor de Gouveia, que mataria como mero exercício de pontaria.

II Repartidor público da riqueza, dizendo que roubava aos ricos para dar aos pobres.

Canção 1

Lá vai o João Brandão
A tocar o violão
Casaca da moda na mão
E atão! E atão! E atão!
Trai trai, olaré, trai trai
Era a moda do meu pai
Oh pastor, lavrador, enganador
rinhinhi, rinhinhó, á-á-á, ó-ó-ó

Canção 2

Já lá vais para o degredo
Adeus ó João Brandão
A morte d’aquele padre
Foi a tua perdição.

A vida de João Brandão (1825-1880) - CAP. II



João Victor da Silva Brandão – “ O João Brandão” – nasceu no dia 1/03/1825, no Casal da Senhora, no seio de uma família de médios recursos.

Era filho de Manuel Rodrigues Brandão e Antónia Rita, que junto com os seus seis irmãos constituiam a família dos Brandões do Casal. Em Midões viviam os seus primos, os Brandões de Midões, uma família de mais prestígio. Tinham uma irmã casada com o morgado de Midões e um irmão casado com a irmã do ministro do Reino, Rodrigo da Fonseca Magalhães.

O seu padrinho de baptismo foi Roque Ribeiro de Abranches Castelo Branco, a quem viria a ser concedido o título de Visconde de Midões pelos serviços prestados à causa Liberal.

Nasceu num período conturbado, em pleno Liberalismo e guerra civil, tendo a sua família um papel importante na causa liberal na região. Não foram bons tempos no Reino e em particular na Beira. A angústia e o medo imperavam, sendo a justiça feita à lei da bala. Foi assim durante mais de meio século.

De 1846 a 1851 fez parte de um batalhão de Cartistas, opositor aos seus primos de Midões que eram Constitucionalistas/Setembristas, tendo capitaneado o Batalhão de Caçadores de Sªº João de Areias.

Foi eleitor pelo concelho de Midões, vereador e fiscal da Câmara de Midões. Em 1853 terá sido o seu período áureo, tendo sido recebido pelo ministro do Reino, o qual lhe concedeu grandes poderes. Em finais de 1854 deu-se o assassinato do Ferreiro da Várzea, um dos pontos mais negros da vida de João Brandão.

E 1863 casou com Ana Eugénia de Jesus Correia Nobre, uma senhora de boa condição e fortuna que lhe conferiu estatuto social, tendo-se mudado para casa dela, em várzea de Candosa.

Foi aliás, nesta povoação, que após várias peripécias, foi acusado da morte do padre Portugal e por ela condenado ao degredo em África.