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Fig. 1 |
No início do séc. passado a nossa
região da Beira estava bastante apaziguada, no que diz respeito a crimes
violentos, bem diferente dos loucos anos do séc. XIX, especialmente a 1ª
metade, pródiga em histórias de faca e alguidar. Um homicídio na Beira Alta em
meados do séc. passado seria muito raro, contudo, quando sucedia, tornava-se
famoso, como parece ter sido o caso do crime que ocorreu entre Travanca e
Lagares, em 5 de abril de 1937, há quase 77 anos atrás, que ficou conhecido como o crime da pantera, tendo-se tornado célebre
e largamente difundido. Segundo conta António Azevedo, de Travanca, mais
conhecido por António Cabaço, e confirmado também pelo Dr. Francisco Antunes,
que é uma referencia da história local, nesse fatídico dia de Abril, uma viúva de alcunha Pantera, numa acesa discussão com o seu amante, chamado
Passinho, ambos de Lagares da Beira, em virtude da senhora não ter acedido aos
intentos do seu companheiro, que queria certos bens em seu nome, e, voltando
eles do registo de Oliveira do Hospital, talvez por um atalho, passaram por uma
antiga ponte, que ficou conhecida daí em diante pela alcunha da viúva – Ponte da Pantera, o Passinho, seu
amante, atirou-a ponte abaixo, ficando vários dias desaparecida.
Ponte da Pantera |
Açude no rio Cobral |
A questão tornou-se um caso de polícia,
e a notícia fez correr muita tinta, vindo inclusive noticiada e caricaturada no
periódico humorista lisboeta, Os Ridículos (fig. 1 e 4). O corpo, sem vida, já
desnudo, apareceu dias depois preso nas margens do rio Cobral, descoberto por
um travanquense, conhecido por Xico d’Amélia, numa zona do rio que hoje lhe
deve também o nome – Xico d’Amélia, em tempos um recanto ótimo para banhos. O
corpo terá galgado seis açudes e vencido muitos obstáculos até se encravar
naquele lugar. Muita gente ocorreu ao local para testemunhar o ocorrido,
incluindo o Dr. Francisco, que era ainda um miúdo de escola.
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Fig. 4 |
O homicida Passinho foi
capturado e preso, mas não se livrou, ao jeito das cantigas que fizeram sobre
João Brandão, de lhe dedicarem em verso uma cantilena:
“No
dia cinco de Abril
Um
crime se passou
José de Oliveira Passinho
A
Pantera assassinou”