Fez
um ano, em janeiro, que faleceu António Luís da Siva Reis Santos, artista plástico conhecido com o pseudónimo de Lanzner,
fazia em 26 de março 78 anos. Partiu o artista, ficou a sua obra. O seu legado, uma coleção vasta composta por óleos, desenhos, gravuras, medalhas e
esculturas, é em grande parte desconhecido, quer pelos seus pares e pelo
público em geral, quer atualmente pelos críticos de arte. Por estar certo da
importância da sua obra e do seu grande valor artístico, queria homenageia-lo,
uma vez mais, neste espaço, criando no blog uma rubrica dedicada à sua vida e
obra.
Em relação à sua atividade artística, no seu curriculum consta o seguinte: -Natural
do Porto, viveu em Lisboa onde despertou para a atividade artística que viria,
mais tarde, a desenvolver, em Coimbra, nos domínios do desenho, pintura,
escultura, e gravura. Em 1959 expôs pela primeira vez os seus trabalhos em
Coimbra, individualmente, e participou também numa exposição coletiva em Viana
do Castelo. Desde então fez exposições, com uma certa frequência, em vários
pontos do país, especialmente da região centro.
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Na sua 1ª Exposição, na Galeria 1º de Janeiro - Lanzner (1º da dta.) com o seu pai, Luis Reis Santos, Mário Silva, entre outros. |
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Lanzner durante a sua 1ª exposição em 1959. |
O
desejo de conhecer melhor a Arte levou-o a fazer viagens de estudo a Espanha,
Inglaterra e França. Foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, tendo
frequentado a “École National Superieure des Beaux Arts de Paris” e o “atelier”
do Prof. Chapelain Midy.
O
interesse pelos processos de fundição de obras de Arte deu origem a que fizesse
algumas medalhas diretas, de tiragens reduzidas, de: Manuel Jardim, Elísio de
Moura, Rainha Santa Isabel, Teixeira de Pascoaes, Alexandre Herculano e Afonso
Lopes Vieira.
De
estudos que fez de desenho e de gravura deixou publicado um pequeno texto, “Do
Desenho-Elementos formais”; e um folheto “Noções Fundamentais de Gravura”,
integrado numa exposição de carácter didático.
Ilustrou
os livros de poesia de Eduardo Aroso, “O Olhar da Serra” e “ A Quinta Nau”, e
alguns desenhos seus fazem parte do livro de Maria Alice Gouveia e Beatriz
Mendes Paula, “Leituras”, para o ciclo preparatório do ensino secundário, publicado
no ano lectivo de 1970-71.Teve ainda a função de consultor artístico em
diversas realizações.
Está
representado em diversas instituições
públicas como o Museu Nacional de
Machado de Castro, em Coimbra com dois óleos, uma aguarela e uma gravura, no Museu
Nacional de Soares dos Reis, no Porto, com um óleo e uma pintura a tinta da
China, no Museu de Francisco Tavares Proença Júnior, em Castelo Branco, com um
óleo, no Museu Municipal Dr.Santos Rocha, na Figueira da Foz co um óleo e uma
gravura, no Governo Civil de Coimbra com um óleo, na Câmara Municipal de
Coimbra com uma aguarela e na Câmara Municipal de Leiria com uma medalha de
Afonso Lopes Vieira.
Os pássaros |
Do período que passou em Paris, destaco a realização de uma obra notável, “Os Pássaros”, que segundo refere A. Nunes
Pereira, “ é uma admirável tela que à primeira vista nos parece puramente abstrata,
mas que, ´`a medida que a contemplamos nos vai revelando uma multidão de
pombas, como a lembrar o célebre soneto de Raimundo Correia". Foi, aliás, sobre
esta e outras telas de Lanzner que René Huyghe fez um dia
uma lição aos seus alunos do Collège de France, onde era professor de Psychologie
des Arts Plastiques, figurando esta pintura na sua importante obra, Les signes du temps et l'art moderne. A propósito de Lanzner, René Huyghe, refere no Anuário do Collège de France, em 1966/67, que “L´étude,
dans leur chronologie, des oeuvres d´un jeune peintre portugais, Lanzner, cherchant
avidement sa voie, a montré qu´il pouvait pratiquer avec la même sincéritté les
deux “grammaires” et faire même de leur alternance les termes d´une dialectique
intérieure en quête de sa synthèse. Complètement assimilées, maniées avec une
aisance égale, elles renforcent la valeur expressive cherchées par la
symbolique obscure et irraisonnée des images: en efect, elles sont mises au
service d´une unité superieure qui ne réside plus dans l´agencement des formes
ou dans le jeu des forces mises en action, mais dans l´unité de la vie
intérieure qui se cherche et se révèle à travers ces manifestations parfois
divergentes dans leurs moyens mais convergentes dans leur source.”
(cont.)
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