Quinta das Hortas
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fig. 1 |
A Quinta das Hortas, hoje ampliada e com o nome de Quinta de santa Cruz, é uma propriedade muito antiga de Travanca, embora só referenciada nos registos paroquiais da freguesia no 3º quartel do séc. XIX, supõe-se ser muito mais antiga, a julgar pela interpretação que se faz do seu património edificado.
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fig. 2. Casa da Quinta de Santa Cruz |
É uma
quinta romântica, charmosa, centrada na sua casa secular. Situada na vertente
ocidental de Travanca, tem uma vista privilegiada sobre a zona histórica da
aldeia, encerrando em si muitos lugares de encanto e, com certeza, muitas
histórias por contar na sua já longa existência.
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Fig. 2 - Vista da quinta sobre travanca |
Um
portão férreo, elegante, muito bem trabalhado, serve a entrada da quinta (fig 3). Ao
transpô-lo, a vegetação envolvente, bastante arborizada, transporta-nos para
uma quinta de Sintra, de onde, aliás, o portão é originário.
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fig. 3 - Entrada principal |
Esta
quinta, agora de Santa Cruz, tem como ex-libris uma antiga nascente, duma água
pura, cujas qualidades medicinais foram atestadas em 1924, por Charles Lepierre, diretor
do laboratório de química analítica do Instituto Superior Técnico de Lisboa, que conclui ser "puríssima, sem contaminação orgânica, muito pouco
mineralizada, excelente água de mesa, levíssima, do tipo Alardo ou Luso". Esta encontra-se
à superfície num magnífico tanque (fig. 4 e 5), talhado em granito e fielmente preservado
pelos seus atuais proprietários. A encobri-lo parcialmente mantém-se um secular
cedro, ele próprio um monumento vivo de arte e resistência (fig.6).
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Fig. 4 - Tanque da nascente, uma prespetiva |
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Fig. 5 - Tanque da nascente, outra prespetiva |
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Fig. 6 - Cedro secular, com 3,35 m de perímetro |
A casa impressiona pela sua grandiosidade e também pelos
pormenores de bom gosto. Na frontaria mantêm preservado, com enorme sentido
estético, o cepo gigante do antigo eucalipto, com 6,77 m de perímetro que, outrora, fora um dos símbolos
da propriedade. Os seus caminhos, pátios e varandas vão preenchendo o nosso
imaginário (fig. 7 a 9).
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Fig.7 |
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Fig.9 |
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Fig. - 8 |
Foi no passado uma quinta agrícola, de terra fértil e com
abundância de água, e talvez daí lhe advenha o antigo nome de Quinta das Hortas. Ela é, sobretudo no imaginário do povo de Travanca, uma quinta de Família, de
ricos proprietários.
Na última metade do séc. XIX, a casa foi habitada pela família
Soares de Albergaria ou, também, Soares da Costa (Freire), conforme se
considere o ramo materno ou paterno dos ascendentes de Travanca, da linha
materna, visto que a linha paterna era de Nogueira do Cravo.
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Fig. 10 - José de Campos Freire |
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Fig. 11 - Maria Amélia Soares de Albergaria |
Em 1889 nasce na quinta, sendo esse o 1º registo a mencionar a quinta encontrado nos livros paroquiais da freguesia, José Soares de Albergaria Costa Freire (fig. 13 ), filho de
José de Campos Freire (fig. 10), juiz escrivão da comarca do município de Oliveira
do Hospital, natural de Nogueira do Cravo e de Maria Amélia Soares de
Albergaria (fig. 11 ), natural de Maceira, Sªº Tiago de Ceia, mas cujo pai João
Soares da Costa Freire era natural de Travanca de Lagos. Terá sido esta a linha
de ascendência da qual a quinta terá sido herdada. Tiveram duas outras filhas, nascidas em
Nogueira do Cravo, uma em 1875, Dona Jerónima Dulce Campos Soares de Albergaria
Cabral (fig.12 ), outra em 1882, Maria Ernestina, que faleceu prematuramente, na Quinta das Hortas, com apenas 8 anos de idade. A família terá permanecido na quinta até cerca de 1915, altura em que José Soares Albergaria da Costa Freire terá
vendido a propriedade e rumado ao Rio de Janeiro, Brasil, local onde terá
vivido até ao ano da sua morte, em 1950. Segundo consta, deixou vários filhos ilegítimos em Travanca. A sua mãe, Dona Maria Amélia, falecera
com 50 anos, viúva, em Abril de 1907. A sua irmã casara em fevereiro desse ano, no Luso, com Abílio Lopes Gomes, natural de Leiria. Desse tempo faustoso ainda chegou à atualidade
um livro de receitas, assinado pela matriarca, Dona Maria Amélia, intitulado –
Livro de Receitas da Quinta das Hortas - existindo atualmente uma copia na posse dos mais recentes proprietários.
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Fig.12 - Jerónima Dulce S. A. Cabral |
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Fig.13 - José S. A. Costa Freire |
Os novos proprietários da quinta, a família de José Estêvão
Godinho de Vasconcelos, vindos do norte, primos de Antonino Godinho de Santo Amaro, iniciariam um novo
período de prosperidade e opulência, tendo ficado célebre as suas festas e
bailes privados no 1º quartel do séc. XX. Das 7 filhas do agregado, duas casaram
com dois irmãos de apelido Barata, naturais de Carragosela, a Dona Conceição Barata, que viveu na casa ao lado
da escola primária e a Dona Cristina Barata, que viveu na casa em frente ao
café Carioca, ambas no Entroncamento.
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Fig.15 - Pormenor das ruínas |
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fig.14 - Quinta das Hortas em ruínas |
Quando o atual proprietário, o Sr. Engº. Francisco Manuel da
Cruz, adquiriu a propriedade em 1988, a casa já se encontrava em ruínas há mais de quatro décadas (fig 14 e 15). Foi necessário uma reconstrução total e em muitos aspetos foi melhorada e
ampliada. Hoje é um encanto podê-la apreciar de novo. Assim outras quintas
pudessem ter o mesmo destino, como é o caso da enigmática Quinta das Mercês,
uma obra secular, gigantesca, em ruínas…