Quinta da Sarnadela
A história que se conhece da quinta confunde-se com a própria
história da família Sousa Figueiredo, mencionada nos registos paroquiais de
Travanca de Lagos. Particularmente António Joaquim de Sousa Figueiredo, uma
reputada figura do seu tempo que nela viveu algum tempo e por lá veio a
falecer.Em 1866 há registos que confirmam que António Joaquim de Paiva, natural
de Andorinha e sua mulher Dona Maria Dulcinia de Sousa já viviam na Sarnadela,
a propósito do nascimento de um neto chamado Luís, de sua filha Maria Amália. Muito
provavelmente foram os construtores do solar que ainda hoje mantem a traça
original. Por parte de António Joaquim de Paiva, ele era filho de Manuel
Antunes Correia, natural de Andorinha e de Luísa Maria de Paiva, natural de
Vila do Mato e por parte de Dona Maria Dulcinia de Sousa, era filha de José de
Sousa Madeira, da Bobadela e de Dona Antónia Margarida Cândida de Figueiredo,
da Cerdeira. Dos 10 filhos, há registo de 8 deste casamento e todos nasceram
nos Lenteiros, andorinha, freguesia de Travanca de Lagos. Joaquim, batizado em
5/5/ 1850, Alfredo em 14/11/1854 e falecido na Sarnadela em 1897 com 43 anos, Maria
Augusta em 15/11/1860. Ainda tiveram Maria Amália, Emília, José Joaquim,
Antonino e particularmente o António
Joaquim de Sousa Figueiredo, prezado médico do seu tempo, nascido em
22/2/1848, também nos Lenteiros, Andorinha, e batizado da igreja paroquial de
travanca de lagos em 5/3/1848 mas que viria a falecer prematuramente com 67
anos, em 20/5/1915, vitima de doença prolongada.
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O Dr. António Joaquim de Sousa Figueiredo foi médico pelo partido municipal de Arganil, onde viveu praticamente toda a sua vida adulta. Fez os seus estudos preparatórios no liceu de Coimbra e licenciou-se pela Escola Médica no Porto. Apesar de nunca casar, teve uma filha, Dona Maria Lucinda de Sousa Figueiredo, nascida em Arganil em 6/1/1893, que veio a perfilhar e instituir como sua herdeira universal no seu testamento. Quando se aposentou por doença em 1907, escolheu precisamente recolher-se na quinta da família, a Quinta da Sarnadela, para viver os que viriam a ser os seus 8 últimos anos de vida.
Foi um homem muito considerado no seu tempo e dele se dizia que
tinha feito da Medicina um sacerdócio, tinha o segredo das grandes curas. “A
sua palavra doce e comovida, à beira do leito onde o enfermo agonizava, tinha o
que quer que fosse de profético e messiânico…curava, como o Rabi da Judeia,
quase pela simples imposição das suas mãos, ou pela ternura bendita das suas
palavras” assim vem descrito na comarca de Arganil, a propósito da sua precoce
mas esperada morte. Segundo a mesma fonte dizia-se que curava e esmolava, “apóstolo
do bem, não medicava só o corpo do paciente, ou sarava as feridas do enfermo,
atenuava-lhe também a miséria, a carência de meios, dando-lhes recursos
materiais de que o via desprovido. Pode dizer-se que o médico pagava para
curar, que debelava o sofrimento físico e espancava a miséria dos lares sem
recursos apenas para satisfazer as exigências do seu coração, da sua alma
repleta de bondade e ternura.”
Embora tenha nascido na freguesia de Travanca de Lagos, concelho de oliveira do Hospital, tinha muitos parentes no concelho de Arganil. Era sobrinho bisneto do célebre José Anastácio de Figueiredo Ribeiro, sendo portanto primo de todos os Figueiredos da Cerdeira. Em Folques também tinha parentes, como o Dr. Ventura da Câmara ou o padre José da Costa Ventura que lhe dedicou num soneto uma sentida homenagem:
Perfil
Caráter impoluto, imaculado,
Alma feita de luz resplandecente.
À virtude e à ciência como um crente
Rende o peito dum culto sublimado:
Modesto e bom, de todos respeitado,
Coração generoso e condolente,
É bom vê-lo à cabeceira dum doente
Como pai carinhoso e desvelado.
Duma crítica justa, calma e fria,
Quando lhe surge em frente a vilania,
Tem assomos de santa indignação.
É médico distinto. Em Arganil
Quem não dirá ao ver este perfil:
É o Doutor, um nobre coração?
Referências bibliográficas:
- A comarca de Arganil, ano XV, nº 738, 27 Maio de
1915
- José Caldeira, Quem foi António José de Sousa Figueiredo, doc. da CMA