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Fig. 1 –Natureza
morta, òleo sobre platex, Lanzner, anos 60 |
A Travanca de Lagos, como à Beira Alta de uma forma geral, são-lhe reconhecidas as qualidades de hospitalidade e de boa mesa, factos que tenho confirmado ao longo dos anos. Ora, esse último aspeto será o tema deste pequeno tópico a que voltarei variadas vezes, tantas quantas as vezes que eu perceber que a divulgação do estabelecimento, da iguaria ou do cozinheiro seja relevante para quem nos visita. Poder percorrer a história e o património da nossa região e complementar o passeio com um rico repasto regional é um complemento que se torna essencial, afinal, a gastronomia faz parte da nossa cultura e é um selo da nossa região.
As gentes da Beira são simpáticas, gostam de receber bem e tradicionalmente têm uma cozinha rica e saborosa. Os produtos regionais são amplamente conhecidos, como o queijo de ovelha Bordaleira, conhecido como Queijo da Serra da Estrela, o requeijão desse mesmo leite, os enchidos de porco, como a morcela, a chouriça e a farinheira ou os míscaros, estes últimos mais raros, talvez por razões de segurança alimentar, são alguns exemplos de excelência. Os pratos de cabrito assado à moda da Beira, os torresmos, o arroz de cabidela, o entrecosto de vinha de alhos são algumas receitas conhecidas. O pão-de -ló que acompanha o queijo, o arroz doce e a tigelada são típicos da região. A broa de milho e a bola de sardinha feitas em forno de granito dão -lhe um sabor especial. O vinho é afamado estando inserido na região do Dão. As castas touriga Nacional para as uvas tintas e o encruzado para o vinho branco são as mais conhecidas.
Infelizmente não há muitos restaurantes a considerar, encontrando-se apenas 1 em travanca que operara por marcação, conhecido pela Tila, de resto, afamado pelas gentes que nos visitam, tendo na sua qualidade /preço e na generosa quantidade a sua mais-valia.
Travanca desde que há registos conhecidos, nomeadamente nas inquirições Afonsinas e por altura do Terramoto de 1755, que é referido travanca como sendo uma terra de poucos recursos, um solo pobre, pouco gado, onde a pouca caça se limitava aos coelhos do mato, que ainda assim eram pouco aproveitados. Como hipótese para esse visível exagero talvez se possa pensar que este relato pudesse servir aos proprietários de então, que dessa forma podiam evitar a cobrança de mais impostos ou tarifas, desviando assim a atenção sobre a aldeia, podendo ser vista como uma medida protecionista. Verdade ou não, sempre se caçou nas nossas terras e presentemente também se juntam ao coelho e aos tordos, o javali. A gastronomia de caça será portanto considerada como tendo tradição nas nossas terras e dado algum destaque.
É um desígnio desta rubrica encontrar quer os restaurantes que respondam ao bom paladar e que estarão ao alcance de todos de uma forma geral, e aos cozinheiros amigos que têm o dom e eu o prazer de ir conhecendo, e que se prestem a mostrar as suas qualidades gastronómicas. Será portanto um espaço de divulgação da nossa cultura gastronómica e um incentivo à descoberta da nossa região, a par das histórias, da cultura e do património.