quinta-feira, 7 de outubro de 2010

1 - Pessoas de Travanca com história - Manuel da Silva


Morreu novo, provavelmente assassinado por vingança, quando passava para a feira dos Carvalhais, perto dos Fiais da Beira, corria o ano de 1842. Segundo Joaquim Martins de Carvalho, em Novos apontamentos para a história contemporânea, a sua morte foi pública e os assassinos foram identificados como sendo António Brandão, o Velho, e o seu sobrinho Manuelzinho. Pertenciam ambos ao Bando dos Brandões de Midões, inimigo figadal do bando dos Brandões do Casal, do qual Manuel da Silva era um sicário.

Foi nesse tempo conturbado das guerras liberais, em que o país estava a ferro e fogo, que ele viveu. A nossa região da Beira Alta era particularmente violenta, tendo-se mantido assim muito tempo para além de terminada a questão liberal. Em nome da política cometiam-se roubos e crimes violentos, assassinatos e vinganças que ficavam sem punição - era a lei da bala!

Quanto aos "feitos" de Manuel da Silva existem poucos relatos escritos, mas sabe-se que participou seguramente em muitas aventuras com os Brandões, primeiro hasteando a bandeira do Liberalismo e mais tarde também, levantando a bandeira do Banditismo. Individualmente foi-lhe atribuída a horrorosa morte do vigário do Ervedal, juntamente com as criadas e mãe. Só 22 anos mais tarde é que se apurou a verdade - tinha sido acusado injustamente- o vigário fora morto pelos próprios irmãos. Esteve também envolvido no cerco ao Bando do Caca, capitaneando como paisano um grupo de civis de Travanca , juntamente com outros paisanas e demais civis e autoridades da época, naquela que seria conhecida como a Matança da Páscoa.

O lendário João Brandão tinha ainda só 16 anos quando Manuel da Silva foi morto, a 29 de Agosto de 1842, vindo descrito na sua certidão de óbito que era casado com Ana Vaz e moravam em Travanca de Lagos. Deixou um filho, que se chamava Luís da Silva, que poucos anos depois foi também assassinado à porta da igreja de Travanca por Paulino José da Costa, de Lagares. Vem assim descrito em Os assassinos da Beira: -" Na povoação de Negrelos, freguesia de Travanca, existia um fulano Ferrão, cunhado de Luís da Silva, o qual, por causa de bens, matou aquele dentro de Negrelos, imputando o facto a Paulino. Este, sobrinho do então pároco de Travanca, num Domingo, quando o povo estava reunido para ouvir a missa, duma janela de casa do tio perguntou a Luís da Silva: - Ó F., quem matou o Ferrão? Silva , voltando-se, disse: - Eu já lhe respondo; e encaminhando-se para casa, que era perto, para, supôs-se, ir buscar a clavina, é passado por uma bala à vista do povo! E ninguém gritou contra o matador!" Assim reza a história.

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