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Fig. 1 - Maramar |
MAR A MAR
Se há uma figura típica de travanca de Lagos, bem impressa na minha mente, do fim da década de 70 e inícios dos anos 80, foi este senhor, o MAR A MAR. Conhecia-o desde a minha infância, aliás, temia-o, eu e todas as crianças desse tempo! Era uma figura imponente, parecia um gigante aos olhos de uma criança, e as suas feições que, quando se dirigia a nós, numa espécie de sorriso engelhado, com os olhos semicerrados, proferia um estrondoso berro como se estivesse a mandar um foguete ou um morteiro, ou então, estivesse a cair uma rajada – três! Pum! Pum! - e a criançada fugia a sete pés!
Só lhe conhecia a alcunha. Lembro-me da sua figura, vestido de escuro com o chapéu na cabeça, meio desengonçado e um guarda-chuva às costas na albarda, a subir lentamente e com alguma dificuldade estrada acima em direção ao Zambujeiro, às vezes com a sua pasteleira a servir de bengala, bastante embriagado, seu estado normal à noite, que, suspeito, durante o dia fosse um homem atinado e trabalhasse nas obras, como pedreiro ou servente. Mas ao fim do dia de trabalho descia ao Povo para apanhar a piela do costume e, pelo caminho, assustar a miudagem!
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Fig. 2 - Zambujeiro 2009 |
Há medida que fui crescendo deixei de o ver ou simplesmente deixei de dar importância àquela personagem que ficcionara e temera. Acho que nunca lhe tinha falado, até que, em 2009 fiz as pazes com a minha infância. Aproveitando uma visita ao Zambujeiro, passei por ele de carro e parei. Falei -lhe por breves momentos, era afinal simpático e afável. Rimo-nos e tirámos umas fotos que aqui deixo como testemunho do nosso encontro.
Agora sei, chamava-se Mário dos Santos, foi realmente pedreiro, e vivia no Zambujeiro. Era da família do histórico autarca de travanca e meu amigo, o senhor Tomaz dos Santos Pedro, que me confirmou o problema grave do seu tio com o alcoolismo e alguma violência associada, que culminara com o internamento e desintoxicação no hospital Sobral Cid, em Coimbra. Quando regressou à Terra, já não bebia, passando a residir no Lar de travanca, tendo sido um dos 5 últimos utentes antes do seu encerramento. Faleceu em 2013, em Avô, para onde foi transferido depois do fecho do lar de travanca. Lar , que nos faz falta!
Conheci muito bem este senhor Mário quando trabalhei na Casa do Povo de Travanca e "aparte as pelas" era uma excelente pessoa.
ResponderEliminarSaudades dessa terra simpática e das suas gentes.
Abraço João
Lembro-me muito bem do Mário. Ouvia-o em minha casa, imitando o barulho dos foguetes.
ResponderEliminarSempre o conheci extremamente educado, levantando o chapéu da cabeça sempre que se cruzava comigo. Era simpático e afável.
S
Sa
Boas memórias