Mário Sapateiro
O Sr. Mário Santos, conhecido como Mário Sapateiro, por ter sido essa a sua profissão, ele que foi o último a exercer essa arte com sede em travanca, era uma figura afável e muito simpática. Prestava o serviço onde tinha a sua oficina, no r/ch da sua residência. E era por ali que se encontrava normalmente, ou a trabalhar na arte, ou a conversar com os amigos que por ali passavam, como eu por exemplo, ou o seu vizinho Horácio Rato.
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Fig. 2- Cabana de apoio |
Também trabalhava na lavoura como grande parte dos travanquenses da sua geração e tinha especial orgulho na sua cabana de pedra situada junto à Mata do Búzio, que lhe servia de apoio para guardar as alfaias. Era um enorme megálito de granito transformado em abrigo, que ele teve o gosto de me mostrar. Tinha também essa característica, servir de cicerone pelas maravilhas escondidas de travanca. Foi ele que me mostrou em primeira mão os megálitos com interesse histórico no Búzio e até onde se situavam as Casinhas do Diabo que, envoltas em mato cerrado, eram difíceis de encontrar.
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Fig.3 –à
procura das Casinhas do Diabo |
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Fig.
4- A contar a pré- História do Búzio |
As Casinhas do Diabo que faziam parte do imaginário das crianças de Travanca da minha geração, ao estilo dos contos populares infantis medievais, que amedrontavam e simultaneamente enalteciam a coragem de quem ousasse enfrentar. Foi o que aconteceu certa vez, com o meu tio António Antunes, numas férias de verão que passámos juntos com a restante família. Entra pela caverna, comigo e outros a ver amedrontados, ouvem-se gritos e sinais de luta lá dentro e finalmente sai com a camisa meio rasgada ou desgoelado, depois de ter enfrentado a fera, dita o Diabo em pessoa! Para nós, se não acreditássemos passava-mos a acreditar, tal fora o teatro daquele ato. Provavelmente faziam isso para perpetuar o mito para as novas gerações. Tudo isto na Mata do Búzio, mata que o incendio de 2017 infelizmente fez desaparecer.
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Fig.5 – As Casinhas do Diabo, aspeto exterior |
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Fig.6-
Pormenor do interior |
Era majestosa, com os enormes
pinheiros mansos de copa bem alta, por entre as altas lajes de granito que
serviam de miradouros para a aldeia e para a serra, tanto do caramulo como da
Estrela.
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Fig.7-
Um miradouro na mata do Búzio |
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Fig.8-
Mata do Búzio, pormenor |
O Sr. Mário Sapateiro era também
conhecido em travanca, por mera brincadeira, como “O Primo”, pois via sempre
uma relação de parentesco entre todos, ou quase. Eu que sou um apaixonado por
genealogia achava graça e cheguei a procurar o caminho do nosso parentesco. Ele
só não sabia os nomes dos antepassados mas tinha uma espécie de instinto
genealógico!