segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Figuras do meu tempo

 

HORÁCIO RATO

Fig. 1 - No Café do Sérgio


O Sr. Horácio era um cartão-de-visita de travanca. Sempre pronto para mostrar os mistérios escondidos do vasto património rupestre da nossa afamada terra. Foi o Sr. Horácio, com toda a sua simpatia e amabilidade que me foi mostrando as primeiras sepulturas antropomórficas, os primeiros lagares rupestres e outros locais interessantes, porque sabia que me interessava pela história de travanca. Nessa altura, quando me encontrava no Povo perguntava-me – Oh! Menino já conhece o sítio X? - E de seguida prontificava-se a mostrar-me a novidade por entre terrenos de cultivo e mato…


Fig. 2 - À procura da sepultura perdida
Fig. 3 - Nos Covais

Ele e o seu irmão, Manel Rato, eram distribuidores de pão em travanca, que o faziam, ele de mota e o Manel Rato de bicicleta, com um cesto bipartido nas traseiras dos velocípedes, conhecido por cesto de pernas. Embora houvessem mais padeiros, como por exemplo o Sr. António Brás. Paravam de porta em porta, pendurando os sacos com o saboroso pão feito em forno de lenha. Lembro me bem do som característico da buzina a avisar a sua chegada! Esse som característico que se mantem na minha memória e que só rivalizava com o toque do sino da igreja! 

O Sr. Horácio não só distribuía o pão como foi padeiro toda a sua vida, uma grande parte do tempo na padaria de travanca, propriedade, na altura, do Sr. Luís Tânica. E que saudades da nossa padaria e de comer o pão quente à meia-noite! Especialmente nas férias de setembro, quando em grupo tocávamos no vidro da porta da padaria, já com um pacote de manteiga na mão e amavelmente nos atendiam. De dentro vinha um bafo quente mas saboroso, muito característico. Nessa época não me recordo do Sr. Horácio por lá mas Lembro-me de ver muitas vezes o Sr. Zé Marques vestido de branco e com farinha da cabeça aos pés, a trabalhar arduamente e que o faria pela noite dentro, interrompendo apenas para nos vender os papos-secos quentinhos. E nós acabávamos a noite no cruzeiro a deliciarmo-nos com o pão quente com manteiga.

Fig. 4 - Manel Rato, junto ao pio da fonte Arcada

O Manel Rato foi também o sacristão de travanca, cargo que ocupou mais de cinquenta anos. Tinham também um outro irmão chamado Abel Rato que penso ter sido agricultor.



  

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