sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Poesia e Património 3

INVOCAÇÃO



















Procuro nas ruelas apertadas,
Espreito entre grades e ameias,
Toco no granito frio e apagado,
Ando pela calçada já gasta,
Polida pelo tempo e por desgraça
De figuras sofridas de preto.


Ouço vozes que vêem de longe,
Olho por entre janelas de cantaria chanfrada,
De dentro, voltam sombras do passado!
Figuras antigas, esquecidas pelo povo injustamente?
Procuro sinais do tempo que me digam,
Porque não se fala delas…


Ao longe vejo João Alvares Brandão,
Senhor da Casa de Travanca e sua mãe Catarina Vaz.
Vejo uma carroça antiga e bonita,
Puxada por um cavalo branco!
Relincha à varada no dorso e parte ensurdecedor,
Pelo outeiro repisado das ferragens.


Sento-me num marco de pedra,
Talhado já por mãos longínquas,
Tão antigo e só, que a história não o reconhece.
Foi outrora coluna da Splendidissima Civitas!
Sobre a ruína erguem-se novos frutos,
Cada pedra encaixa noutra charada.


Casas sobrepostas em becos cruzados,
Valetas centenárias por onde correm fluidos,
Os cheiros sinistros e intensos do ar.
Por detrás de uma cancela velha,
Descobre-se um pormenor interessante,
Que anuncia histórias e vidas por contar…


Oh! Mensageiro do tempo falido,
Enviado de veneráveis antepassados,
Portador de passos esquecidos!
Sossega a minha inquietação,
Revela-me os segredos perdidos…
JC Duarte

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