quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Travanca de Lagos – Uma viagem pelo tempo

Postal antigo 

A ocupação humana do território deverá ser bastante remota, a julgar, primeiro pela proximidade da Bobadela, antiga cidade romana - a splendidissima civitas - por outro lado a existência da Anta do Pinheiro dos Abraços junto a Travanca, e de outros monumentos megalíticos nas freguesias vizinhas. A base de dados do IPA regista a existência em Travanca de Lagos duma Anta, período Neo-calcolítico, mas sem qualquer anotação de trabalhos ou estudos.
Na freguesia existem ainda, muitas sepulturas rupestres e restos de necrópoles da Alta Idade Média e até, possivelmente, pré-históricas. Segundo consta na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira terá havido por aqui povoamento já há cerca de 5.000 a 6.000 anos.

O 1º e mais antigo documento escrito na história do actual concelho de Oliveira do Hospital e que faz referência a Travanca é uma ”carta de testamento” de uma tal Múnia ou Muna, datada de 22 de Janeiro de 969, mostra que ela doa ao Mosteiro do Lorvão os bens que tinha entre o Mondego e o Alva, especialmente Midões, Touriz e Flamianes ou Framiães na margem do Alva, e aí se diz que Midões com Touriz confronta com a “villa” (rústica) de Travanca.

A acção repovoadora do Mosteiro do Lorvão, instituição robusta, fundada no último quartel do séc.IX pouco após a tomada de Coimbra em 878, por D. Afonso III de Leão, estendeu-se por uma vasta região que ia de Ceira e Serpins a Penacova e Gondelim na foz do Alva, a Miranda do Corvo, tendo a população cristã chegado a Mucela e Sarzedo, Santa Comba Dão, Midões e Travanca e outras terras, e por toda esta extensa área a população estabilizou, fundaram-se igrejas, cultivavam-se tractos e courelas.

Mas o domínio cristão na Península continuava instável, já por disputas entre os chefes e os condes cristãos, já por acção dos muçulmanos. O Rei Garcia, rei de Leão, morre em 914 e sucedeu-lhe Ordonho II que governava a Galiza, ficando assim reunificados estes dois reinos, que, dentro em pouco, passaram a chamar-se unicamente Reino de Leão (embora, temporariamente, a Galiza viesse a estar novamente independente com Sancho até à morte deste em 929, quando o rei de Leão era Afonso IV, seu irmão). Por esta altura, territorialmente e politicamente a região das Beiras era Reino de Leão.
E, com efeito, não se encontram notícias de incursões ou combates com muçulmanos na região que possa corresponder a Seia, Oliveira do Hospital, Vale do Alva ou redondezas por esses tempos de 911 a 937 mesmo nas décadas mais próximas seguintes.

O segundo documento mais antigo a mencionar Travanca é uma Carta de D. Afonso Henriques de 20-3-1133, de coutamento de Midões ao já dito Mosteiro do Lorvão. Volta a citar-se esta terra ao traçarem-se os limites e de novo se refere a tal arcana: “dividit Midones cum Teorice (Touriz) et inde per illa arcanam que est inter Midones et Travanca”. Ainda no séc. XIII se cita em Travanca o lugar chamado Pedra de Tom “- “termino de Travanca in loco qui dicitur Petra de Tono” – com possível interesse arqueológico.

Nos primeiros tempos da Nacionalidade, Travanca era terra do termo de Seia, uma possessão do rei sob o domínio directo da Coroa. Segundo as actas das Inquirições de 1258, era terra reguenga, tendo um celeiro real, chamado cellerium, onde se entregavam os foros ou tributos da coroa. Lá vem referido também que a terra e a igreja eram possessões da Coroa. No campo eclesiástico, era Paróquia do Arcebispado de Seia. No Arrolamento Paroquial de 1320-1321, a igreja aparece expressamente denominada “de São Pedro de Travanca da terra de Seia” .

Na parte final do séc. XIV, D. João I deu a Gomes Freire de Andrade o senhorio da Bobadela, Travanca, Lagos e outras terras na Beira. Era ilho de Nuno Freire de Andrade, fidalgo vindo da Galiza, que também se ligou a Beja, de quem o rei tinha recebido importante serviço.

A partir de D. João IV, que criou a casa do infantado (1654), o senhorio das terras da Bobadela, Travanca e Lagos passaram ao proveito desta instituição, isto é, a terras do Infantado.

Mais tarde,Travanca, Negrelos, Andorinha, Covas e Balocas, passam a fazer parte do mesmo concelho de Lagos da Beira, concelho que se caracterizava por ser territorialmente descontínuo. A Justiça tinha sede em Lagos da Beira embora a parte administrativa e reuniões de câmara fossem realizadas em Travanca.

Já assim acontecia quando D. Manuel l concedeu Foral a Lagos em 15-3-1514. Andorinha chegou a pertencer ao antigo concelho de Midões e o concelho de Lagos veio também a integrar Santo Amaro.

Extinto o concelho de Lagos, tanto este como Travanca, que dele fazia parte, foi anexado ao de Oliveira do Hospital, por Dec. de 6-11-1836.

JDuarte

3 comentários:

  1. Parabéns pela página!

    Não pude dar ainda grande atenção, mas a ideia é muito interessante.

    Bom trabalho!

    "Avó" Isabel

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  2. Um excelente trabalho a que quero dar uma pequena achega. Travanca pertenceu ao Concelho de Lagos (minha terra), mas os Paços do Concelho funcionavam em Travanca. Talvez por ser uma terra maior ou por estar situada mais no centro do Concelho. Em Lagos funcionava a justiça. Estava assim o poder dividido e descentralizado. Muito moderno.

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    1. Obrigado pelo comentário.Haverão documentos conhecidos, que possam ser consultados, que nos elucidem onde poderiam ser os Paços em travanca, ou as reuniões seriam feitas em casas particulares?

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